It is impossible to think about Infection and Immunity in Portugal and not think about the many contributions from Rui Appelberg during his outstanding career. It is impossible to study Mycobacteria infections and not think about Rui’s findings and vision. It was impossible to think of setting a meeting with Rui and not become fervent and nervous with the questions he would raise. It was impossible to discuss our projects with Rui and not to improve our research plan and experiments. It was impossible not to have a good and stimulating time with Rui. A month ago we were saddened and shocked by the sudden news that Rui Appelberg has passed away.
This is how Rui academically described himself:
Rui Appelberg got his M.D. in 1984, his PhD in 1992, and his “Agregação” in 2002 at the Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS) of the University of Porto where he became Full Professor in 2003. He has been involved in the teaching of Microbiology, Immunology and Infection Biology. His research dealt with the study of Microbiology and Immunology of Infection at the IBMC where he was Group Leader until 2015. He now belongs to the staff of the Vilanova lab at the I3S. Specifically he studied the immune response, vaccines and the development of immune pathology to mycobacterial infections (Mycobacterium avium and M. tuberculosis). He published over one hundred papers in international journals indexed by PubMed. He was the PhD advisor of 12 students and co-advisor of several others. He is presently the PhD co-supervisor of one student at the University of Minho and another from the University of Porto. He won several scientific prizes including the First Pfizer Award for three times. He acted as Associate Editor of The Journal of Immunology and belongs to the Editorial Board of Infection and Immunity. Past collaborations included researchers from France, Spain, UK, USA, Denmark, The Netherlands, Germany and Norway.
But Rui was much more than a brilliant scientist: he not only mentored many PhD students, but also many young scientists, always providing honest criticisms to the experiments and data interpretations, as well as helping in any way he could without any self-interest. Rui kept us in our tiptoes when discussing science, whilst at the same time providing an endless source of enthusiasm and motivation to excel to the highest level.
Rui was also an eager cyclist, a Nature lover, a photographer and a wonderful writer (please read on more here: https://apontementos.wordpress.com/).
Rui will be terribly missed by his many collaborators, mentees and friends. From all of us: Thank you!”
Margarida Saraiva & Nuno Alves
O Rui determina o que sou hoje como cientista. Durante uma fase da vida em que vivemos tudo muito intensamente, ter o Rui como referência foi uma benção. Ser aluna de doutoramento do Rui foi ser tratada como igual, e deixou-me um legado que superou todos os artigos que publicámos juntos. Sempre achei que fui privilegiada por ter um orientador que respeitava a nível científico e como pessoa.
O Rui deu-me histórias que hoje, quando contadas, parecem de tempos que já não existem. Num laboratório sem financiamento, ver o Rui pagar ratinhos com o próprio cartão de crédito, almoço aos alunos porque as linhas celulares retidas na alfândega ainda estavam viáveis, é muito mais do que ciência.
Os queixumes, a visão pessimista do futuro, o descontentamento e a forma como sentia as injustiças, eram todas partilhadas da mesma maneira, sem filtros, sem meias palavras. O humor negro do Rui é para quem gostava… eu gostava! Principalmente, quando o punha em texto porque escrevia muito bem.
Tinha de conquistar o Rui com os gráficos, e quando conseguia, ele retribuía com uma visão que fazia toda a diferença e o empurrão de que precisava. A cultura científica do Rui permitia sugerir hipóteses para além das óbvias.
A generosidade do Rui estava nos atos, e eu recebi muito dele. Incentivou a minha formação como cientista ao apoiar a ida a congressos, ao sugerir que falasse no lugar dele ainda mal começava a dar os primeiros passos.
O Rui foi para mim o orientador a quem sempre fiquei ligada, com quem queria ainda discutir a próxima história científica.
Para quem ficou no coração do Rui, é agora muito duro constatar tudo que levou de nós com a sua partida.
Bem haja, Rui!
Rui profoundly changed my life and for that I’ll always be grateful. I met Rui in the mid 90’s on one of his visits to Ian Orme’s lab in Fort Collins, Colorado. Rui was charming, gregarious and fun — he was always keen for billiards, biking or exploring parts of the western US. On one visit he stayed with Andrea and I, where over breakfast one weekend morning we sketched a research plan for my Ph.D. Despite my relocation to New York and my new job as a research tech, he remained committed to the plan and to my success, even when I wasn’t so sure of myself. He smoothed my language difficulties with UPorto, he filled forms and performed all of the mundane work that needed to be done. Over the course of my degree, I would make an annual trip to Porto, stay with Rui and enjoy his hospitality. He taught me by example — word and action — how to learn, how to teach, how to communicate. This wasn’t easy because when Rui found fault, he was not shy in his criticism, but it was always logical and thoroughly supported by his encyclopaedic knowledge of the field. Through this, however, he remained warm, understanding and free with his time. For me, this experience was formative. As my own career has progressed, I’ve strived to model my approach to research, teaching and how I think about the graduate student experience on his kind but rigorous approach to students. I’ll miss Rui, not least because I’d planned on a joint publication based on our work together. To Teresa, Clara and Ana, I was one likely one of many visitors that crossed your threshold, but to me your kindness and cheerful acceptance at more than a few dinners was priceless. Thank you Rui.
O Rui foi um imunologista único e excecional.
Para muitos de nós a sua morte deverá constituir um novo recomeço.
Bem Haja Rui!
Com o Rui Appelberg pude aprender muito, como cientista, como imunologista, como docente universitário e como pessoa. O Rui tinha um saber transversal, vasto e muito sólido, o que elevava sempre a expectativa de qualquer conversa, fosse científica ou informal. Como colega, testemunhei nele uma grande generosidade, sempre desinteressada. Partilhava o saber sem reservas, o que às vezes tinha a forma de um livro. Era também detentor de uma enorme sinceridade. Dizia o que tinha a dizer, de um modo sintético e definitivo. A sua grande erudição e refinamento intelectual contrastava com uma simplicidade que só percebemos nos que são verdadeiramente grandes. Na sua forma discreta de ser, contribuiu como poucos para a imunologia em Portugal, deixando uma marca notória em muitos dos que com ele puderam colaborar e aprender. Como eu. Custa-me escrever no passado e realizar que perdi o colega que aprendi a respeitar, o amigo, e o companheiro de muitos almoços que eram verdadeiras lições de vida. Essa coisa efémera que às vezes nos surpreende com acontecimentos sem sentido.
Prof Appelberg was an outstanding experimentalist and a deep and rational thinker, importantly he was also able to impart these skills to others and his enduring legacy is seen in the quality of the scientists that he has trained. He is world renowned for his work defining the battle between our immune response and the mycobacteria that so cleverly manipulate us. His published work provides some of the key classical studies which define our understanding of the immune system and these will remain important documents testifying not only to his scientific integrity and experimental skill but to his ability to think clearly and without prejudice. All this is true of his professional life but this was only a part of the man we knew and loved. He was a consummate host and a true friend. He enjoyed travelling and he initiated a wonderful collaboration between Colorado and Porto which blossomed over years and over many countries and continents. His influence can be seen worldwide not only in his science but in a network of people who owe so much to his collegiality, his insight and his openness to new ideas. Many of my fondest memories are centred on Rui and his family and friends, I think many of us can say the same; that is his true legacy.
Não é fácil expressar por palavras o respeito e a admiração pelas pessoas que gostámos, e o Rui Appelberg é uma delas. Para além de enaltecer a sua singular inteligência e a importância das suas contribuições científicas e académicas para o desenvolvimento da ciência em Portugal, queria deixar neste testemunho uma visão mais pessoal do impacto que o Rui teve na minha carreira. Conheci o Rui pessoalmente em 2009 na sequência da minha chegada ao antigo IBMC. Acabado de terminar o meu post-doc e com ambição de começar o meu grupo de investigação, o Rui funcionou como um mentor nessa fase. Mostrou sempre uma total disponibilidade para discutir comigo qualquer dúvida científica, administrativa, ou de outra natureza, que assombra jovens investigadores no início dos seus projetos independentes. Guardarei com ternura e gratidão o interesse genuíno e generoso que o Rui demonstrava na leitura critica dos primeiros projetos e artigos que emergiam do meu grupo. Os seus comentários acutilantes tinham o dom de não só melhorar os nossos trabalhos como também de nos desafiar a pensar de uma forma diferente. Para além do seu carácter franco e generoso, da sua sagacidade e honestidade intelectual, o Rui tinha um sentido de humor impar, só possível das melhores e mais criativas mentes. O gosto pelas “bicicletas” aproximou-nos também a nível pessoal, e deu-me o privilégio de conhecer um pouco da pessoa por trás do professor e cientista. A melhor forma que encontro de homenagear o Rui, e de certa forma perpetuar o seu legado, é continuar a aplicar os seus conselhos no meu presente e futuro.
O Rui Appelberg faz parte daquelas pessoas que quando cruzam a vida dos outros deixam marcas profundas. Quando se conhece o Rui é impossível não ficar perplexo e desconcertado com os seus comentários. Quem é esta pessoa que nos faz duvidar de nós próprios, do que “sabemos”, dos nossos resultados e teorias? Quem persistir na relação com o Rui, encontra um cientista genial, sólido, generoso e sempre disponível, que questiona não para diminuir, mas para que as dúvidas levantadas revelem melhores experiencias e interpretações. De aluna no ICBAS a colaboradora do Rui, de perplexa a seguidora, espero agora conseguir, sem a voz do Rui, continuar no caminho que ele apontou. Vou ter saudades de tremer antes de reunir com o Rui, de aprender a ver histologias, de receber e-mails com ideias para os projetos e com papers para ler… mas vou também sentir falta das nossas conversas e de rir com as piadas do Rui. Obrigada, Rui!
Rui, always in my mind.
My first news from Rui come far away, by 1995, when I was an invited scientist at the Mycobacterial Research Labs, thanks to the kindness of Ian Orme. I soon got in touch with the Portuguese gang, precisely with Jorge Pedrosa, and also Manuela Flòrido. I got the impression of Rui as a mythic person. It was not for a long time. Soon after Jorge left, and also Manuela, I was alone in the cold, dry and snowy Fort Collins, comforted by the hospitality of Ian and Andrea Cooper, together with Beth Rhoades and Susan Baldwin.
Then I came back home, I met Isabel, and I got soon married, and as sort of magnet, I guess the year after my wedding (by 1999), we both came to Porto for a meeting, and I met Rui in person and his family. It was for Sant Joao, with the balloons, the martelo and garlic teasing in the streets.
He was very critical with my work (of course, there was very little evidence), based on foamy macrophages, and it was very useful for the future of my research, but at the same time he was very kind, and translate to me his love for life, the fact that science was not all that matters, the joy for a good meal, a good conversation, his orange tree garden out of Porto. Two years after, we met in Istambul, in a European Society Congress. I was about to be a father, with Isabel about to deliver. We could chat also extensively, and started to talk about his passion for cycling, and about a certain disappointment about science. It was a sort of sensation that I’ve also experimented when coming from a great Congress, you have a lot of ideas, and then you soon realize that you will never have the funds to work with them.
Rui also kindly hosted one of my PhD students, a very brilliant one, Sergio Gordillo. Which apparently was a good cyclist as well, but in fact it was not… Rui destroyed him… It should be by 2004. The year when Peter Andersen call me, thanks to Rui, to participate as a partner in a Grand Challenge Grant. Two years after, my daughter Agnès was born. He sent me one of his usual sharp and concise mails: “congratulations, girls are good…”. It was about that time that Margarida Correia-Neves came to my lab, probably before Agnès birth, to work with the thymus infection. The long planed BL3 facility was not still available. It was a long lasting handicap of the group, to have not the possibility to work directly with M. tuberculosis, which was blessing for my lab, giving me a lot of chances!
I must say that I could not met him again. He was always in my mind, together with Jorge, and also Margarida. That’s why I was also really glad when I knew that it could be a chance to meet him again, as he had a project that was included in the TBVAC consortium, by 2015. But he hever came. It is in fact a great gap, which could only be filled by the news from Margarida Correia Neves, and afterwards through another Margarida, Margarida Saraiva. Both fantastic and brave scientists!
In fact, she invited me to give a talk in Porto last year, at the Myco Porto. Unfortunately, at the very last moment I had to go to India, for a regulatory meeting. It was my last chance to talk again with Rui. Is when you realize that life is plenty of lost chances. But fortunately you always keep the best memories, and is what I keep from Rui: his sharp and brilliant mind, his critical analysis, his fighting capacity against adversity, and his orange-tree villa!
I had the chance and the great pleasure to collaborate with Rui for several years. Rui was an outstanding and reliable scientist. He has substantially contributed to our understanding of the interaction between mycobacteria and the immune system. Rui was also a wonderful person and a generous host. I will never forget our consortium meetings in Porto, intense brainstormings punctuated by lunches at the Confeitaria Duvalia (e seu polvo suculento) and Rui’s caustic sense of humour. Rui liked to joke, but when it came time to work, he would adjust his glasses, and get extremely serious and sharp.
Thank you very much Rui for these amazing moments and everything you taught us. You are sorely missed.
“O Professor Rui Appelberg é o cientista e professor mais brilhante que conheço.
Marcou-nos pelo intelecto brilhante, perspicácia, imprevisibilidade e humor característico, mas principalmente pela oportunidade de crescimento e aprendizagem que fornecia. Como Professor, era inspirador, e não permitia preguiça intelectual. Mais do que professor ou académico, o Rui era um Mentor, como poucos o são, pois partilhava a sua liberdade de espírito com os que o rodeavam, não impondo “caminhos”. Discutir ciência com ele era um privilégio. O Rui era crítico, colocando o “dedo na ferida”, e com as suas tiradas pertinentes e sempre certeiras, tornou-nos melhor cientistas e pessoas. O Rui que esteve sempre à frente do seu tempo, deixou-nos cedo demais e resta-nos agora aplicar tudo o que nos ensinou, continuando o seu legado. Até já, Professor Rui!”
Certa vez conheci um professor catedrático, cientista de renome nacional e internacional e mestre de muitos. Era de aparência comum, mas possuidor de um generoso bigode que transmitia um certo tipo de personalidade à sua personagem. Homem de passada rápida, sempre com a sua Eastpak às costas, e que fazia do andar a pé a sua forma de se movimentar entre casa, universidade e instituto. Pelos corredores os mais novos diziam que era intimidante e implacável nos seminários, mas estranhamente regozijava-se desta fama obtida. Tinha um sentido de humor peculiar, deixando muitos chocados, mas os mais próximos riam-se à gargalhada com ele.
Eu era um estudante de mestrado e nem sequer era orientado por este mestre. As nossas conversas eram limitadas a um bom dia professor, boa tarde professor, até amanhã professor. Certo dia, enquanto desesperava por uma amiga para tomar café, e ao ouvir a porta do gabinete a abrir nas minhas costas, sem olhar, disse:
– Fogo! São horas de chegar?
Ouvi então uma resposta assertiva e num tom masculino:
– Sim são! Porquê, tens algum problema com isso?
Gelei. Fiquei sem reação. Era o professor.
Contra todas as expectativas a partir daquele dia tudo mudou. Adotou-me finalmente como seu discípulo.
Aprender com este mestre era gratificante. Segundo ele, a beleza da ciência estava em resultados que não compreendíamos e que não estávamos à espera. Cada pergunta, cada hipótese, cada experiência que pensava levava-me a ligar pontos invisíveis aos meus olhos. Acreditava no poder do conhecimento e por isso certa vez enviou-me um email ao final do dia a dizer que tinha deixado uma encomenda para mim em cima da minha bancada. Era a nova edição do Immunobiology.
Muito aprendi com este mestre. Aprendi sobre granulomas, macrófagos e necrose. Felizmente este mestre era muito mais do que isto. Também aprendi a distinguir um carvalho de uma azinheira, aprendi sobre pontes romanas, aprendi sobre bicicletas, montes e estradas de montes. Aprendi com as suas histórias e a rir às gargalhadas com ele. Aprendi sobre integridade e honestidade de carácter e aprendi também que os meus atos determinam o tipo de cientista que sou.
Hoje, espero ser um dos muitos que mantém este testemunho vivo!
Foi com profunda tristeza, e com ainda maior incredulidade, que tomei conhecimento do falecimento do Prof. Rui. Ainda me parece que foi ontem que tive a minha primeira aula de Imunologia, onde um sujeito magro e de bigode se decidiu sentar na plateia junto aos alunos. Perante caras de surpresa, ele saltou para o quadro e ao invés de fazer uma apresentação, começou a conversar connosco sobre imunologia. A sua personalidade única e frontal era conhecida entre todos, assim como o entusiasmo durante as aulas que, certamente, eram tudo menos monótonas. E, foi através da reação a esta notícia de muitos dos meus colegas de faculdade, agora colegas de trabalho, que foi possível perceber o quão marcante foi o Prof. Rui para todos nós. Todos contactámos com o seu espírito honesto e exigente, direto e sem “papas na língua”, mas sempre acompanhado de um conhecimento e competência únicos. Com esta perda, todos nós ficámos mais pobres em termos científicos, mas também em espírito crítico. Por estes poucos anos, sinto-me privilegiado por ter podido discutir ciência com ele e ficarei sempre grato pela sua ajuda, conselhos, críticas e oportunidades. Obrigado!
Inteligente. Crítico. Solitário. Sagaz. Desafiante. Seguro. Discreto. Generoso…
Para mim, qualquer um destes adjetivos caracterizariam o Rui. Mas o Rui era, acima de tudo, Generoso. Generoso na partilha do seu conhecimento e sabedoria. Generoso na partilha do seu espaço e recursos. Generoso na partilha do seu recanto, a sua quinta, onde passamos belas tardes de verão e colhemos castanhas e cogumelos no outono. Bons tempos!
Como bolseira de investigação, integrei o grupo de investigação do Rui logo à saída da faculdade. Posteriormente, o Rui foi co-orientador do meu doutoramento. Sinto que tive a oportunidade de aprender com um dos melhores e que parte do que sou hoje devo-o sem dúvida ao Rui, à sua observação perspicaz, às suas ideias, às suas questões (que tantas vezes me fizeram estremecer)…. e claro está, à sua generosidade.
Ainda não caí em mim. A minha cabeça teima em não querer acreditar neste desfecho repentino. Obrigada por tudo Rui.
Imagino o Rui a ler isto enquanto bebe uma lager e a rir-se do nosso sentimentalismo.
Quando comecei a trabalhar com o Rui, eu, tal como toda gente sensata do instituto, sentia-me verdadeiramente intimidada pela sua inteligência. O seu ar austero também me deixava receosa. Depois de um curto tempo a trabalhar com ele, deixei de o achar austero. O seu sentido de humor corrosivo encaixou muito bem com o meu. O Rui gozava muito connosco (estudantes, postdocs, etc) mas também achava muita piada quando respondíamos à altura e até quando gozavamos com ele. Quanto ao facto de me sentir intimidada com a sua inteligência, tenho a dizer que ao fim de oito anos a trabalharmos juntos, isso nunca me passou. A diferença foi que com o tempo este sentimento tornou-se construtivo. Obrigava-me a pesquisar, estudar e pensar bem antes de lhe expor uma ideia. Confesso no entanto que a maior parte das vezes não o conseguia fazer porque ainda teimo em falar antes de pensar. Nessas ocasiões, diverti-me muito a ouvir o Rui descontruir e a gozar com as minhas ideias (que tantas vezes eu achava geniais). Noutras ocasiões eu acertava e ele concordava comigo, sentia-me quase uma verdadeira cientista! Outras alturas discordávamos, fazia as experiências, e, numas raríssimas ocasiões (contam-se pelos dedos de uma mão) eu até tive razão! O Rui não era de fazer elogios, mas ao fim de alguns anos de convívio comecei a perceber como ele ficava contente quando nos saíamos bem. No laboratório do Rui tive a oportunidade de experimentar, de ter ideias e de as testar. Esta oportunidade que me foi dada, é cada vez mais rara nos laboratórios dos dias de hoje, mas torna a ciência muito mais entusiasmante. Mesmo quando falhamos! Da minha parte sinto que daqui para a frente fazer ciência vai perder metade da piada. Sei que sou uma verdadeira priveligiada por ter tido a oportunidade de aprender e e de conviver com o Rui. Diverti-me muito a trabalhar, mas também nas muitas conversas sobre a ciência dos dias de hoje e nas conversas ditas banais que fomos tendo ao longo destes anos. Quase que aprendi a gostar de fotografias de pontes! Aprendi muito mas ficou muito por aprender. Isso, e um lavangante pelo o último paper publicado. Por tudo isto, e por muito mais que não cabe aqui, obrigada Rui!
No fim, o velho pousou a lager vazia e suspirou.
My Deepest Condolences on the loss of this great man. My Heart Is Broken at this news. I met Rui when he joined Dr. Ian M. Orme’s laboratory as part of the Mycobacteria Research Laboratories at Colorado State University. I was a Senior Research Assistant in the Orme Lab and had the distinct pleasure of working with Rui and becoming a friend. I visited the University of Oporto in 1990 and 1994 and participated in a Graduate Biotechnology Seminar Series and it was a memorable time with him and his colleagues, students, and family. I wish to express my deepest love to his wife Theresa, and daughters Anna and Clara as well as all who had the fortune of knowing Rui. I will miss him greatly.
Sincerely,
Alan D. Roberts
Conheço o Rui desde que fui acolhida pelo Prof. Teixeira da Silva no laboratório de Microbiologia do Centro de Citologia Experimental (de onde anos mais tarde surgiu o IBMC). O Rui era na altura Monitor de Microbiologia no ICBAS e desenvolvia nesse lab o seu trabalho de investigação. Para mim foi um mentor mais próximo (pois apenas distávamos em idade 5 anos), além de um amigo, juntamente com o Jorge Pedrosa e o Gil Castro, que também pertenciam ao grupo. Conservo muitas memórias do bom ambiente de trabalho dessa altura – grandes discussões científicas com muito humor à mistura – graças também à personalidade do Prof. Teixeira da Silva, de mente brilhante mas de relacionamento muito simples e próximo. Por toda a ajuda que o Rui me deu durante o meu doutoramento conservo uma profunda gratidão.
Apesar de já não trabalharmos no mesmo espaço há uns anos, pertencíamos ao mesmo grupo no IBMC/I3S e ao longo dos anos fui contando com o Rui para discutir os resultados dos meus projetos e para rever os meus artigos. Penso que o Rui, para além de ter uma inteligência acima da média, era extremamente honesto nas suas opiniões (o que poderia não ser sempre bem aceite…).
Embora continue a ser para mim difícil aceitar a sua partida, acredito que o melhor de nós nunca morre e que o Rui continuará a estar presente na vida de quantos tiveram o privilégio de ser seus amigos. O Rui e a sua família, de quem ele gostava tanto, estarão sempre presentes nas minhas orações.